22 de março de 2011

A fauna do Bairro Jabotiana

Saguim no manguezal do Canal Grageru no Bairro Jabotiana

            Aracaju já possui áreas extensas de urbanização sufocante, entretanto, na zona oeste do município, mais precisamente no Bairro Jabotiana, o “ultimo bairro verde de Aracaju”, há várias ocorrências de corpos d’água: o rio Poxim, riachos afluentes e duas lagoas. E onde existem águas, também ocorre vegetação, os seguintes biomas: manguezal, mata atlântica e a flora aquática dos brejos ou alagadiços.
Essas ocorrências naturais guardam uma rica fauna, apesar da gradativa extinção em função do avanço descontrolado da construção civil predadora.
            Fauna é o termo coletivo para a vida animal de uma determinada região ou período de tempo. Coleção de animais tipicamente encontrada em um período específico ou lugar, a exemplo de “Fauna da Caatinga”.
Mamíferos e répteis de várias espécies, além de pássaros, existem em profusão nos manguezais das margens do rio Poxim, do canal Grageru e de outros afluentes daquele rio, e da Lagoa do Areal (antiga Lagoa Jabotiana) e na mata atlântica remanescente entre o conjunto Santa Lúcia e o povoado Aloque: são cutias, raposas, saruês, sagüins, teiús, camaleões, cobras verdes, cágados d’água, corujas, morcegos, várias espécies de pássaros, peixes e crustáceos.
Vigilantes noturnos, que percorrem as ruas marginais dos conjuntos residenciais Sol Nascente, JK e Santa Lúcia nas altas horas da madrugada, vêem raposas e saruês, saírem dos manguezais do rio Poxim e do canal Grageru e ganharem as ruas na busca por alimentos.
Moradores do povoado Aloque que estudam ou trabalham em Aracaju e trafegam à noite, a pé ou de bicicleta, pela estrada de acesso àquela comunidade, nos informam que cruzam com raposas, guaxinins e cutias com muita freqüência.
Antigos pescadores nos falaram da existência de camarão, siri, caranguejo, tilápia, tainha e bagre em abundância nas águas do Poxim e de seus “canais” afluentes. Hoje essas espécies são raras naqueles corpos d’água. Ocorrendo com mais frequência apenas o bagre e o goré.  
No rio Pitanga, afluente do Poxim, habitantes do Aloque ainda pescam xaréu, piau, carapeba, robalo, tilápia e camarão, entre outras espécies.
Moradores antigos da Rua Jabotianinha, a mais antiga comunidade do bairro, lembram que, na Lagoa Jabotiana ou Lagoa do Areal já existiu jacarés.
Até o início do século passado, existia ali uma localidade denominada “Mondé da Onça”, próxima da linha imaginária divisória dos municípios de Aracaju/São Cristóvão, em algum ponto entre a Colina do Reservatório R6 da DESO e a Lagoa Jabotianal [ ver BARRETO, Luiz Antônio. Dicionário de Nomes e Denominações de Aracaju. Aracaju,2002. Pgs 166 e 173 ]. Mondé é um topônimo de origem tupi que significa escondirijo, toca. Designando, portanto, uma toca de onça.
Moradores do conjunto Santa Lúcia nos lembram que, em 2007 quando da devastação da vegetação e das árvores frutíferas dos terrenos alagadiços ao noroeste daquele conjunto, para a feitura do aterro para a construção dos condomínios Residencial Vitória Régia, Santa Lúcia, Terra do Sol e Parque das Fontes, muitos pássaros e sagüins “invadiram” as residências daquela comunidade, principalmente as que possuíam árvores frondosas.
A extinção da fauna original naquela área é gradual, motivada pelos seguintes fatores: poluição do rio Poxim e dos seus afluentes, devastação dos manguezais em função do avanço descontrolado da construção civil e o encolhimento da mata atlântica do entorno do povoado Aloque.
O que restou da fauna original dos matagais e matas, em meio ao desespero da sobrevivência, migrou para os manguezais, um novo habitat que não era característico de várias espécies, que tiveram que se adaptar.
Várias espécies de pássaros tiveram comportamento semelhante. Com o crescimento acelerado da malha urbana no Bairro Jabotiana, tentam sobreviver no ambiente humano, ou seja, nas árvores das praças, dos canteiros das avenidas e dos jardins e quintais das residências. Daí assistirmos a presença constante de rolinhas, pardais, beija-flores, bem-te-vis, lavandeiras, quero-queros e corujas, além de morcegos, povoando a cidade.
Para que todas essas manifestações da natureza não se transformem e simples memórias do passado no futuro próximo, concluímos com a sugestão de sempre: a criação de uma reserva ou parque ecológico estadual delimitando claramente as áreas a serem preservadas e com as funções de preservação, pesquisa, educação e lazer.

Artigo do nosso Primeiro Secretário Antônio Wanderley publicado no Jornal do Dia (Aracaju) em 16 mar. 2011.