16 de fevereiro de 2013

O avanço imobiliário no Bairro Jabotiana


A Lagoa do Areal no Bairro Jabotiana em 2007

Desde 2007, o Bairro Jabotiana vem sofrendo um acelerado crescimento imobiliário. Principalmente após os impedimentos na Zona de Expansão. Os olhos ávidos das construtoras se voltaram, do sul, para o oeste de Aracaju. E como na Zona de Expansão, o crescimento imobiliário ocorre sem a infraestrutura adequada e sem levar em conta o impacto sobre o ambiente natural e a vizinhança pré existente.
            Atualmente são dezenas de condomínios, seja na margem esquerda do rio Poxim, nas proximidades dos conjuntos residenciais Sol Nascente e JK, seja na sua margem direita, nas imediações do conjunto Santa Lúcia, se estendendo para o oeste além da fronteira com o município de São Cristóvão.
Empreendimentos aprovados sem relatórios prévios de impacto de vizinhança e impacto ambiental, como determina o Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001). 
            Apesar de esses condomínios terem nomes poéticos, de exaltação à natureza, ironicamente, seus projetos arquitetônicos são quase completamente destituídos de preocupação ambiental. O impacto negativo sobre o verde e as águas daquela área é muito grande como informaremos mais adiante. Assim, os próprios condôminos (os clientes das construtoras) e a população do entorno, já vem sofrendo as consequências deste avanço acelerado. Um crescimento imobiliário predador, no que se refere ao meio ambiente natural que ainda teima em existir.
            Nas proximidades dos canteiros de obra, são vários os problemas para as comunidades preexistentes: rachaduras nas paredes e tetos das casas em função da ação dos bate-estacas, comprometendo a estrutura da residência e a integridade física, e porque não dizer, a vida de seus moradores; intensificação do trânsito pesado de caçambas, caminhões, betoneiras, motoniveladoras e escavadeiras estraçalhado o asfalto das ruas e espalhando poeira e barulho, comprometendo a tranquilidade e a saúde das pessoas.    
             O crescimento privilegia os interesses do capital imobiliário, em detrimento da qualidade de vida das comunidades e do ambiente natural. Resultando na devastação do verde, impermeabilização do solo, aumento da temperatura em função da insolação inclemente devido à falta de vegetação climatizante, aumento da vazão de dejetos líquidos (esgotos) para o Rio Poxim, além de gigantescos aterros das áreas de vazantes daquele rio, que contribuíam para minimizar as enchentes naquele trecho estuarino. Até 2008, havia dez anos que não ocorria enchentes ali. A partir daquele ano até o presente, foram três.
            É facilmente percebida a falta de ordenamento, de planejamento urbano. Condomínios de blocos de quatro andares, próximos de futuros condomínios de torres de 16 andares em espaços exíguos, com vias de acessos insuficientes, implicando na inviabilidade da mobilidade urbana, ou seja, no ir e vir das pessoas ao trabalho, à escola, ao lazer e na busca por serviços fora do bairro. Aquela zona cresce sem inteligência, tocada pelos interesses imediatos (e insanos) do capital.
O déficit de áreas verdes influencia negativamente o microclima do bairro e da cidade. A ampliação rápida e avassaladora de áreas permeáveis em Aracaju contradiz a tradição de “cidade jardim” e põe em xeque o título de “a capital da qualidade de vida”. Os urbanistas e engenheiros florestais recomendam que as cidades devam possuir, pelo menos, 30% de seu solo urbano permeável e com vegetação (árvores, arbustos e grama). Se depender do mercado imobiliário, a cidade deverá ser um imenso mosaico cinzento, uma selva de pedra colossal, mais quente e suscetível a enchentes, mais monótona, feia, barulhenta e estressante. Tudo em nome do lucro rápido e imenso.
O BJ é a área de expansão da Zona Oeste de Aracaju. É o bairro com um dos maiores crescimento populacional da capital, muito acima do crescimento vegetativo calculado pelo IBGE de 2% ao ano. Segundo a EMURB, de 2007 a 2011, surgiram 2000 novos domicílios no BJ e adjacências, ou seja, de seis a oito mil moradores a mais em curto espaço de tempo, provocando problemas óbvios de intensificação do trânsito, poluição sonora, entre outros apresentados.  Contribuindo assim, para o caos urbano, perdendo rapidamente a condição de “O último bairro verde de Aracaju”, aprazível e altamente comunitário, onde “todos se conhecem”, onde as pessoas interagem.
A mudança é notória: milhares de pessoas vivendo fechadas, encaixotadas em prédios de apartamentos, vizinhos que não se conhecem, que não trocam sorrisos e amabilidades, que não trocam nem um “bom dia”, favorecendo o aumento do individualismo e da solidão.
A Lagoa do Areal em 2010

A Lagoa do Areal em 2012