27 de outubro de 2010

As lagoas do Bairro Jabotiana

Antônio Wanderley de Melo Corrêa*


Lagoa do Areal (ou Lagoa da Jabotiana): Avanço da construção civil em suas margens


O termo “lagoa” vem da expressão latina lacuna, que significa poça ou brejo. Geograficamente, é um pequeno corpo de água de ambiente fechado com pouco fluxo, porém não estagnada. É um pequeno lago ou pântano, formado em uma depressão do terreno, onde ocorre alagamento alimentado por chuvas, aquíferos ou vazante de algum rio ou mar. Existem também lagoas artificiais, feitas pela ação humana.
            O Bairro Jabotiana localiza-se na zona oeste de Aracaju. Seus limites são: avenida Tancredo Neves(leste), a fronteira com São Cristóvão(oeste), a avenida Marechal Rondon(norte), o riacho Grageru, o rio Poxim e a ferrovia(sul).    É “o último bairro verde de Aracaju”, em virtude do grande elenco de elementos naturais ainda existentes: manguezais, mata atlântica, brejos, o rio Poxim com seus riachos tributários e duas lindas lagoas: Jabotiana e Doce(ou Rio Doce).
            A lagoa Jabotiana deu nome à primeira comunidade daquela área e ao bairro inteiro. É também conhecida como Lagoa do Areal, pela existência de areia branca em suas margens.
            O topônimo “Jabotiana” vem do tupi: jaboti = cágado + rana = nascer, surgir. Ou seja: onde nasce o cágado. A Biologia informa que o cágado d’água vive e se reproduz em água limpa e tranqüila, sem muita correnteza. Assim, a toponímia é confirmada nas características naturais do local.
            A lagoa Jabotiana localiza-se em direção ao norte do conjunto Santa Lúcia, entre a colina do reservatório R 6 da DESO e a Cidade Universitária Dr. Aloísio de Campos da UFS. É cruzada pela linha imaginária que divide os municípios de Aracaju e São Cristóvão. Sua metade oeste pertence a São Cristóvão e a metade leste a Aracaju.
            Aquela ocorrência natural é envolta por um denso manguezal e por barrancas de areia branca, contando com uma fauna rida. É uma vazante do rio Poxim em sua área estuarina.
Aos domingos e feriados é local de lazer aquático para famílias de bairro circunvizinhos, a exemplo do América, do Santos Dumont e até mesmo do Rosa Elze em São Cristóvão. Pescadores usam canoas e redes para realizarem sua atividade de trabalho, retirando tilápias e bagres de suas águas. Aquela lagoa possui grande profundidade, provocada pela dragagem do leito para a retirada de areia lavada. Fato que tem causado, ao longo dos anos, mortes de crianças por afogamento.
As agressões ambientais de maior ocorrência e impacto são: a retirada da areia branca de suas margens e leito e o avanço da construção civil. Condomínios do PAR e particulares estão sendo erguidos bem próximos ao seu manguezal, a exemplo do José Rosa de Oliveira Neto e do Montserrat.
Pelo fato da lagoa Jabotiana ou Areal ser cortada pela linha imaginária da fronteira entre Aracaju e São Cristóvão, a área é uma espécie de “terra de ninguém”, logo a responsabilidade pela sua preservação cabe ao Governo do Estado.
A lagoa Doce ou Rio Doce se encontra ao sul do conjunto Santa Lúcia, no início da margem esquerda da estrada de acesso ao loteamento Jardim dos Coqueiros (Aracaju) e ao povoado Aloque (São Cristóvão). A vegetação de seu entorno é rasteira e arbustiva. Tem aproximadamente um terço do tamanho da lagoa Jabotiana. Sua denominação “Doce” talvez se deva ao fato de sua água não ser salobra como as outras águas daquela área. 
A principal agressão à lagoa Doce é o depósito gradativo de cascalho de restos de construções, próximo as suas margens, para a realização de aterros.
O Novo Código Florestal (Lei 4.771/65) determina no seu Artigo: 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: [...] b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais.
A solução única e definitiva, para impedir a degradação daquelas ocorrências naturais, é a criação de uma reserva ecológica estadual envolvendo as águas do Poxim, de seus riachos afluentes e das lagoas, a vegetação ciliar desses corpos de água, além da mata atlântica nas proximidades do povoado Aloque. Reserva esta com funções de preservação, pesquisa, educação e lazer. Os benefícios sócio-ambientais para os dois municípios serão grandes. Do contrário ...    

(*) Professor de História das redes públicas estadual (SEED) e municipal (SEMED/PMA) e morador do Bairro Jabotiana

Fonte: “Jornal do Dia”. 23 jun. 2010. Pg. 04.

2 comentários:

Bom dia,
Me chamo Daniela Oliveira, sou arqueóloga e integro a equipe de Arqueologia da Ambientec Consultoria Ambiental que atualmente desenvolve um estudo arqueológico em área situada entre o Campus da UFS em São Cristóvão e o bairro Jabotiana, para o licenciamento ambiental de um empreendimento da Construtora Celi que será instalado na região.
Em cumprimento aos requisitos legais vigentes, devemos contatar a comunidade residente no entorno da área pesquisada para realização de divulgação dos estudos realizados, bem como a promoção do patrimônio cultural do município pesquisado.
A Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sergipe recomendou que realizássemos algumas ações direcionadas ao grupo de vocês, que tem envolvimento com a área.
Isto posto, gostaríamos de saber se existe a possibilidade de realizarmos um encontro o grupo Sociedade Jabotiana Viva, para que possamos apresentar nosso trabalho, bem como os resultados do levantamento do patrimônio cultural do município de São Cristóvão.
Aguarmos retorno.
Att.
Daniella Oliveira
 
Gostaria de detalhes sobre o resultado do estudo.
 

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