6 de julho de 2013
“JABOTIANA” um poema
O
historiador sancristovense Thiago Fragata, em suas garimpagens pelos arquivos
sergipanos, nos brindou com um grande achado, um poema sobre o Jabotiana de
Dermerval Mangueira, que foi Inspetor de Diversões Públicas da Prefeitura de
Aracaju, publicado no jornal “Diário de Sergipe” no final dos anos 1950.
Preservamos a grafia original no sentido de respeitar a criação artística.
Além do
valor artístico-literário, o poema nos informa sutilmente sobre as belezas
naturais e o processo de apropriação da atual zona oeste de Aracaju há mais de
meio século. Um verdadeiro documento histórico, produzido por um homem sensível
e apaixonado pelo ambiente natural. Numa época na qual, devastar e poluir eram
sinônimos de progresso e de desenvolvimento.
JABOTIANA
Dermerval
Mangueira*
Estes versos que agora estou cantando,
São aqueles que eu não sabia exprimir
Aqueles tempos de menino...
Quando eu recebia os teus carinhos...
Quando eu me alimentava com o teu sorriso
verde;
Quando eu me sentava à beira do teu rio,
E êle, de braços abertos,
Deixava-me ver o azul do céu lá no fundo!
O azul era tão bonito, tão lindo,
Que, muitas vêzes tive ímpeto de correr,
De entrar nas suas entranhas
Para me abraçar com aquele céu!...
- Ah! eu precisava tanto daquele céu para
morar
Naqueles tempos,
Era um heroi...
Pegava os primeiros raios da aurora.
Todos os dias,
Para colocá-los dentro dos meus olhos.
Não temia a escuridão da noite!
Nada me infundia pavor!
Agora, vivo desdobrado.
Cheio de mêdo;
Mêdo do tempo,
Mêdo dos homens que absorveram a terra!
Mêdo dos homens que escravizam os homens!
JABOTIANA,
Eras pluralizada naquêles tempos
De meu pai,
De minnha mãe,
De todo mundo...
Hoje, estás singularizada,
Os homens maus enxotaram a tua gente,
Gente mansa,
Gente dócil,
Gente bôa.
Mas um dia, JABOTIANA,
Voltarás a ser simples e pura
Como nos dias que se foram.
E lá, decerto, estarei;
- Nas fôlhas sêcas das campinas,
Nas pedras empoeiradas das estradas,
Nas águas tranqüilas de teu rio.
*Diário de Sergipe.
Aracaju: 26 de junho de 1959. P. 03.
Postado por
F.Anthares
às
16:45
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