2 de janeiro de 2011

O verde e as águas do Bairro Jabotiana

O rio Poxim e o seu manguezal exuberante, separando os conjuntos JK e Santa Lúcia.

                O Bairro Jabotiana encontra-se na zona oeste de Aracaju, tendo o seguinte perímetro: a avenida Marechal Rondon, ao norte, dobrando para a avenida Tancredo Neves, ao leste, daí para o canal Grajeru (Aquele que é cruzado pela “Ponte do Detran”) que encontra o rio Poxim até este tocar a ferrovia e esta encontrar a linha imaginária divisória dos municípios de Aracaju e São Cristóvão, ao sul, seguindo a linha imaginária, ao oeste, até a mesma encontrar a avenida Marechal Rondon (Fonte: “Aracaju – Mapa Municipal Oficial”, SEPLAN-PMA/ENGEFOTO/PNAFM, 2004).
Aquela grande área, meio urbana e meio bucólica, é o último bairro verde de Aracaju, pelo menos por enquanto.
            O bairro citado é um espaço urbano reservado para moradias da classe média. Logo o avanço da urbanização é veloz e devorador sobre aquele verdadeiro santuário verde e aguado. Em menos de três anos foram e/ou estão sendo construídos quatro novos condomínios do PAR e oito privativos, quatro deles ao oeste do conjunto Santa Lúcia, outros quatro paralelos à avenida Tancredo Neves pelo oeste e dois entre o conjunto Sol Nascente e a comunidade Largo da Aparecida.
            Assim, o santuário verde e de águas abundantes padece em uma agonia não muito lenta e progressiva. Os conjuntos residenciais mais antigos: Sol Nascente, JK e Santa Lúcia, foram ocupando grandes áreas de matas, manguezais e barreiros; enquanto os condomínios de casas e de prédios vêm avançando sobre a vegetação, por assim dizer, da noite para o dia. Mas o que está feito é fato consumado.    
            Se o leitor que conhece pouco ou não conhece o Bairro Jabotiana fizer uma vistoria atenta ao mesmo, ficará espantado com a grande reserva de vegetação e de águas ainda existentes naquela zona de Aracaju, onde ocorrem resquícios de Mata Atlântica nas bordas da estrada do povoado Aloque e entorno daquela comunidade; manguezais abundantes nas margens dos rios Poxim Açu e Pitanga, e do canal Grajeru; duas grandes e lindas lagoas: Rio Doce (Ao sul do conjunto Santa Lúcia) e Areal (Ao norte da colina do Reservatório Apoiado da Deso, o R6), ambas com vegetação de entorno.
A mata do Aloque e a vegetação do entorno da lagoa Rio Doce vêm encolhendo devido a aterros e depósitos de cascalhos feitos por moradores desavisados ou mal intencionados; nas margens da lagoa Areal, a areia branca é extraída incessantemente; os rios são poluídos mortalmente pelos dejetos dos esgotos sanitários sem tratamento que afluem para os mesmos, bem como pelo hábito paleolítico de certos “cidadãos” de arremessarem, displicente, lixo sobre suas águas e margens; em alguns pontos, o manguezal do rio Poxim vem sendo destruído.
            Quando da construção de quatro condomínios ao oeste do conjunto Santa Lúcia, os mesmos foram erguidos em uma área anteriormente alagada, onde existiam lagoa e brejo, servindo naturalmente como sustentação do regime do rio Poxim, ou seja, como área de vazante de suas águas em momentos de maior volume, provocadas por alta pluviosidade ou por pico de maré. A área alagada foi aterrada velozmente, engolida pela areia das construtoras. O rio Poxim perdeu uma importante vazante. A conseqüência pode ser desastrosa, consistindo em maior probabilidade de suas águas invadirem áreas residenciais em alguns bairros de Aracaju, com mais freqüência, principalmente no Bairro Jabotiana, pelo fator topográfico, sendo os conjuntos JK e Santa Lúcia e a comunidade Jabotianinha as áreas mais fragilizadas.
Se as demais lagoas e brejos do baixo vale do rio Poxim passarem pelo processo acima exposto, coitadas das populações ribeirinhas. Aquele rio perderá suas últimas vazantes, toda a sua água se concentrará em seu próprio leito assoreado, o qual não comportará tamanho volume, transbordando para as ruas e infernizando a vida de centenas de famílias.
            A construção daquelas edificações foi licenciada pela Adema e pela Emurb. Pergunta-se: Houve um Relatório de Impacto Ambiental – RIMA.  Pelo menos é o que determina a lei. Se foi realizado, não preveu conseqüências tão lógicas?
As políticas públicas de urbanização não podem privilegiar somente os interesses do mercado imobiliário, em detrimento da sustentabilidade ambiental, da qualidade de vida e da segurança da população, tão declamadas em prosa e verso. Para tanto é fundamental que os poderes públicos municipal e estadual definam claramente o que deve ser preservado como patrimônio ambiental do povo de Aracaju.
Com boa vontade política e agilidade é possível evitar o pior, ou seja, que o último bairro verde e outras ocorrências naturais de Aracaju não se transformem em ambientes urbanos monótonos, densos e sufocantes, a sofrerem as conseqüências desastrosas provocadas pela insensibilidade, diante da destruição voraz das áreas naturais que ainda nos resta.
  
*Artigo publicado no Jornal do Dia em 05 dez. 2008. Pg. 04. De autoria de Antônio Wanderley de Melo Corrêa e revisado em dezembro de 2010.        

1 comentários:

Boa tarde Sr. Wanderley, me chamo Edjeane e estou iniciando um projeto de impactos ambientais no rio poxim do bairro jabotiana, tenho formação em biologia e faço pos em Saneamento Ambinetal, por isso manifesto um grande interesse em saber um pouco mais sobre a historia do bairro como tambem a do blog, já que o mesmo possui um objetivo de sustentabilidade ambiental. Deixo, então o meu email para que possamos nos comunicar melhor, espero resposta e fico grata pela atenção. (edjeane@gmail.com)
 

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