10 de novembro de 2010

Crime ambiental no Bairro Jabotiana

Um dos montes de cascalho de construção civil depositado na vegetação ciliar do rio Poxim nas margens da Estrada da Cabrita, no Bairro Jabotiana

Atualmente experimentamos a maior crise ambiental da história da humanidade. É fundamental reconhecer a nossa responsabilidade no impedimento ou na minimização da destruição dos recursos naturais fundamentais à vida.
O planeta parece entrar em convulsão, através de mudanças climáticas radicais, além da escassez de recursos hídricos e de solos férteis. Paralelo a isso, ocorre a produção monumental de lixo, a destruição sistemática e veloz da biodiversidade, o crescimento caótico, sufocante e desordenado das cidades. São problemas causados por nós, pelo nosso estilo de vida, hábitos, comportamentos e padrões de consumo. 
Em Aracaju, o verão de 2010 foi muito quente, fervendo. Tivemos de tudo: chuvas torrenciais, trovoadas, a maré invadindo ruas e avenidas, incidência altíssima de radiação ultravioleta e até ventania de 70 km por hora. É a resposta da natureza à insanidade da lógica do lucro a qualquer preço, por parte dos grandes grupos econômicos e do consumismo exacerbado de muitos, provocando agressões ao meio ambiente em escala global e local.
            Como se tudo isso não bastasse, durante o Carnaval, mais um crime ambiental aconteceu no Bairro Jabotiana - BJ.
No fundo do canteiro de obras dos condomínios “Canto Belo” e “Reserva das Flores”, foi feito um grande aterro até o limite do manguezal do rio Poxim.
Ali, na margem esquerda do rio, rente ao manguezal, nas proximidades da “Ponte Velha” e ao longo da Estrada da Jabotiana em direção ao Largo da Aparecida, foram depositadas toneladas de cascalho e lixo: verdadeiros montes de restos de forro de gesso, areia, fragmentos de reboco, sacos de cimento vazios, latas de tinta, caixas de papelão, sacos plásticos contendo papel e copos descartáveis, entre tantos outros objetos indesejáveis.
Trata-se de uma ação criminosa, pois de acordo com o Código Florestal (Lei 4.771/65), que legisla sobre as áreas verdes naturais, o Artigo 2º determina: “Consideram-se de preservação permanente as formas de vegetação natural: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água. I - Até 50 metros fora do curso d’água entre 10 e 50 m de largura”. 
            Com a ocorrência do pico das marés altas e as chuvas do inverno, grande parte aquela material sinistro descerá para o Poxim, piorando a situação do rio mais poluído de Sergipe.
            O correto seria o transporte do cascalho e do lixo para alguma lixeira e não optar pela ação “mais prática” ou “mais econômica”. Nessa lógica terrível, a natureza é apenas um detalhe incômodo e sem importância.
            Na Quarta Feira de Cinzas (17 fev.), moradores indignados informaram o ocorrido a membros do Conselho Diretor da Sociedade Jabotiana Viva. No sábado seguinte (20 fev.), esses foram ao local e confirmaram, atônitos, as denúncias. Na oportunidade, fizeram registro fotográfico e resolveram agir.
            Na semana seguinte os diretores da entidade realizaram contatos junto a meios de comunicação e denunciaram o fato à Polícia Ambiental (Protocolo M – 188187) e a Coordenadoria de Atendimento Ambiental da ADEMA (Denúncia 56/2010). Eles também notificaram o fato ao Conselho Local de Saúde do BJ na sua reunião ordinária de 26 de fevereiro na USF “Manoel de Souza Pereira”.
            O crime ambiental foi denunciado, por nossos diretores, a uma equipe de reportagem da TV Sergipe, que foi exibido no programa “Bom Dia Sergipe” e reprisado no noticiário “SE TV 1ª Edição” no dia 02 de março, causando enorme repercussão e indignação nas comunidades do BJ.
No dia seguinte, o delegado e agentes da Polícia Ambiental foram ao local e deram início à investigação para chegarem aos agressores do manguezal e do rio.
            Esperamos que a ADEMA também identifique e puna aquela atitude deplorável. Lugar de lixo e de entulho é na lixeira e não no manguezal do rio Poxim.
           
Mais agressões
            Em vistorias pelo BJ, nos dias 20 e 27 de março, membros da diretoria e sócios do nosso movimento, detectaram crimes ambientais por toda parte: ampliação dos aterros de cascalho da lagoa Rio Doce (ao sul do Santa Lúcia); avanço da construção de novos condomínios do PAR, praticamente avançando para a mata de entorno da lagoa Jabotiana ou Areal (ao norte da colina do reservatório R6 da DESO); além de vários carroceiros depositando entulho nas proximidades do rio Poxim e do canal Grageru (no fundo das escolas Joaquim Vieira Sobral e Manoel Franco Freire no JK).
            Desculpe caro leitor, sabemos que essas informações são desalentadoras, mas não para por aí. Também fomos informados que um sítio com 27 tarefas, já na fronteira com São Cristóvão, um verdadeiro bosque repleto de mangueiras centenárias e coqueiros, próximo ao loteamento Parque das Mangueiras (ao oeste do Cemitério Colina da Saudade), foi vendido para a OSAF, com o objetivo de ser construído ali um grande crematório com estacionamento e tudo mais. Pessoas ligadas ao antigo proprietário falaram que quase todas as árvores serão destruídas.
            Praticamente todas as pessoas que conhecemos, em sã consciência, são defensoras do meio ambiente natural: o verde, as águas, o solo fértil e o ar. Estão preocupadas com o efeito estufa e suas terríveis consequências. Todos estão estupefados com as declarações dos cientistas informando sobre o fim da calota polar do Ártico para daqui a 10 anos. A maioria se indigna com a devastação e as sucessivas queimadas de matas na Amazônia.
Entretanto pouco ou nada fazem para preservarem o meio ambiente na ponta dos seus narizes. Não praticam a cidadania. Muitas vezes também são agressores inconscientes ou displicentes.
Uma mudança de atitude se torna urgente. O individualismo e a timidez precisam ser vencidos, ou os derrotados seremos todos nós. Antes falávamos que seriam nossos filhos ou netos, as futuras gerações. Mas tudo indica que esta geração ainda verá horrores. 
O silêncio e o imobilismo da maioria das autoridades é de estarrecer.
Vale lembrar a máxima do movimento ambientalista de autor desconhecido: “Mais importante do que cuidar do planeta para os nossos filhos e netos, é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta”. E acrescentar-mos-ia: “Antes que seja tarde demais”.
Lembramos também o Artigo 225 da Constituição Federal: “Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de  preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Matéria publicada no impresso “Informativo Jabotiana Viva” nº 05, abr. 2010.  

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